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Destaques

Lua

Hécate, deusa grega das encruzilhadas, por Stéphane Mallarmé, 1880. Ah, Hécate, no desvelar da lua A noite obscura encobre o sombrio segredo Do poder oculto e fugidio do aparecer  Na noite eterna que encobre em mistério Soturna e lúgubre a verdade esquecida Entre memórias há muito perdidas e apodrecidas Do que se tem como a luz que emana de ti  Vendo agora, no clarão sombrio  Da noite que engole o Ser e o Mundo  E seu Abismo de negrume e Nada Somos tragados adentro da magia da deusa Hécate, nos abençoe e fortaleça Seu glóbulo ocular entre-nuvens  Disperso porém presente, vívido porém evanescente Somos reféns de ti nas noites de glória Ao grande Sabá cósmico à Máquina Tanatoerótica  De Nosso Senhor Dioniso, expressão viva Da tripartite de seu do rito profano  Deus coroado das terras da Frígia  Gerado, destroçado e germinado  Para ascender do Abismo da destruição  Delirante de alegria orgástica em seu ato de Sacrifício   E pela máxima diabólica da transgressão Lhe solicitamos a benção, ó

Sobre Ideias

 


A Escola de Atenas de Rafael Sanzio, 1509-1510.

Para se vencer alguma coisa é necessário primeiramente vencer a ideia dessa coisa, conceitualmente falando. Superar uma ideia está entre as coisas mais complexas de todas, e superar uma ideia muitas das vezes tem como caminho unicamente substituí-la por uma melhor, ou mais bem estruturada. Se uma ideia se mostra absurda e sem fundamento, só pode ter uma solução possível: descartá-la. Uma ideia é algo que se impregna na mente e espalha seus tentáculos e raízes tornando-se cada vez mais fixa e irredutível.

Uma ideia é algo muito poderoso e ao mesmo tempo muito perigoso, e quanto mais bem desenhada e construída, mais difícil é de se desfazer dela. Um bom exercício para se testar a força de uma ideia é o de confrontá-la com argumentos lógicos e racionais até o ponto em que essa ideia não consiga mais se manter por si mesma e desabe. A ideia que se contradiz, ou tem em si argumentos e partes que contradigam ouras ideias fixas - mais fortes e bem estabelecidas por aquele que pensa ou é acometido por essa ideia - tem por costume caírem por terra.

Existe uma diferença entre a ideia fixa que surge por golpe repentino, e aquelas que já tem no individuo uma longa história de desenvolvimento interno e que ganham seu espaço tanto pela persistência como pelo acúmulo de pontos em seu favor, cristalizando assim uma ideia como parte do caráter da própria pessoa. O que não é o caso das ideias que surgem repentinamente por exposição com algum fator externo que instigue ou atice a mente a ser levada por esse caminho. As ideias que surgem subitamente na maioria das vezes vêm tão rápido quanto vão embora, entretanto são as mais perigosas por criarem uma certa obsessão por elas e dependendo do caráter dessas ideias, elas podem influenciar o indivíduo a executá-las. Contudo confrontar as ideias súbitas com as fixas esclarece o caminho para se desnudar essa ideia súbita e percebê-la como um corpo estranho e alienígena no conjunto da consciência do indivíduo. 

Outro método eficiente para se combater uma ideia súbita que se torna indesejável na mente é o de tentar traçar o caminho até de onde ela surgiu ou de tentar explicá-la como objeto conceitual, ou seja, tentar criar para essa ideia um fundamento de existir e um objetivo lógico e funcional. A ideia invasora pode também ser substituída pela ideia de si mesma, ou seja, pela conceituação de que é tão somente uma ideia, dessa maneira perceber que tal ideia é nada mais do que um estímulo nervoso, uma construção sem forma material da consciência na própria consciência, fazendo a ideia perder seu poder sobre o indivíduo.

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