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Alegria e Sofrimento
O paradoxo das redes sociais é que todos só desejam mostrar para o outro seu lado positivo, suas conquistas, vitórias, prazeres, virtudes e alegrias. Por outro lado, o sofrimento diário, o sofrimento que sempre nos acompanha e que nos é mais conhecido do que qualquer uma dessas coisas que fingimos possuir todos os dias e com as quais mascaramos nossas vidas nas belas fotos e vídeos a serem aclamados por nossos amigos e chegados virtuais nada são mais do que uma forma de fuga, de eludir constantemente das consequências das contingências cotidianas que a todos afetam de forma igual com uma certa justiça democrática.
Como sempre se ouve por aí “todo mundo tem seus BO”, mas é a covardia e a vergonha
que impede o individuo de ter uma espécie de solidariedade frente ao sofrimento,
pois tudo o que importa, tudo o que sempre importa, é a imagem de sujeito impecável,
infalível e bem apessoado, bem constituído e alegre na sociedade de produção
que tem como princípio final uma espécie doentia de alegria. Não a alegria que
se vangloria do sofrimento, se desfaz e renasce dele, mas aquela alegria do
fingimento, que simplesmente considera o sofrimento como uma ficção.
A sociedade dos últimos homens prevista por Nietzsche onde, como ele afirma em seu Zaratustra com estes dizendo “nós, os últimos homens, inventamos a felicidade”. É o tipo de sociedade que nega o sofrimento na vida, foge, esconde, como se ele não existisse e não significasse nada, só importa a alegria, a alegria pela alegria. Não a alegria que se conquista pelo esforço - a alegria paga com sangue e espírito. Dessa alegria de mercado nada me interessa, essa alegria que você compra com dinheiro e se satisfaz com o produto genérico e artificial de uma troca.
“Eu te dou aqui um registro fotográfico da minha
alegria e você me devolve um símbolo de coração representando sua aprovação da
minha alegria eternizada no instante de um frame”. Alegria ingênua, vazia,
desfigurada e ausente de si mesma. A alegria é amarga, pois ela é um caminho,
um sentimento que se desperta por uma conjunção de elementos e muitos deles
passam necessariamente por um aspecto de desprazer como propulsores para que o
prazer funcional da alegria ecloda. Não há alegria instantânea, não há modo de eternizar
a alegria, não como comprar alegria.
A alegria vem dos mais infinitesimais estímulos, sejam no presente sejam
na memória, mas sempre por uma leve ou profunda melancolia que a acompanha em
seu encalço, como que por seu pontapé inicial ou por seu findar. Não há alegria
sem sofrimento, e não há sofrimento sem alegria, como uma verdadeira roda da
fortuna que gira sem parar e que entrega seus frutos de prazer e gozo
orgulhosamente após passarem por todo martírio e desgosto da vida, assim como
após todo esse desenlace de colheitas frutíferas e abundantes vem, a certo
momento, colher seu preço com a escassez e os temporais. O ponto fundamental é:
não virar a cara para esse destino e glorificar a vida, expor suas marcas na
Terra, seja na primavera ou no inverno.
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