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Destaques

Lua

Hécate, deusa grega das encruzilhadas, por Stéphane Mallarmé, 1880. Ah, Hécate, no desvelar da lua A noite obscura encobre o sombrio segredo Do poder oculto e fugidio do aparecer  Na noite eterna que encobre em mistério Soturna e lúgubre a verdade esquecida Entre memórias há muito perdidas e apodrecidas Do que se tem como a luz que emana de ti  Vendo agora, no clarão sombrio  Da noite que engole o Ser e o Mundo  E seu Abismo de negrume e Nada Somos tragados adentro da magia da deusa Hécate, nos abençoe e fortaleça Seu glóbulo ocular entre-nuvens  Disperso porém presente, vívido porém evanescente Somos reféns de ti nas noites de glória Ao grande Sabá cósmico à Máquina Tanatoerótica  De Nosso Senhor Dioniso, expressão viva Da tripartite de seu do rito profano  Deus coroado das terras da Frígia  Gerado, destroçado e germinado  Para ascender do Abismo da destruição  Delirante de alegria orgástica em seu ato de Sacrifício   E pela máxima diabólica da transgressão Lhe solicitamos a benção, ó

Meu Enigma


 Édipo e a Esfinge de Gustave Moreau, 1864.

Você...

Complexo edípico da minha existência.

Contradição fundamental do meu ser.

Negação da minha negação de vida.

Linha de fuga da minha dialética.

Amor platônico onde o platonismo não passa mais de sombra na caverna.

Musa e ninfa dos sonhos perdidos do homem que almeja a terra firme, mas que tudo o que encontra é a sereia sedutora na obscuridade do mar.

Ajude-me a resolver um enigma insondável que se precipita em minha mente turva de problemas mundanos, mas que, por um acesso de divindade, sobrevém o problema fundamental da mortalidade:

Que és tu, esfinge, que se erige sobre mim com tuas questões como se eu fosse um oráculo ou mesmo um sábio, sendo tão somente um homem?

Que és tu esfinge que joga sobre mim suas artimanhas como se a mim fosse decidido pelo destino inescrutável de verdades, a verdade a ti admitir sobre toda a eternidade?

Que és tu, esfinge do amor, que não me deixa e não me abandona senão para me fazer desespero em meus momentos de solidão onde não a encontro?

Que me faz refém de suas malícias e de suas carícias contínuas as quais meu ser anseia constantemente o retorno e a réplica do dado, mas nunca o desprendimento de ti.

Que me faz vítima da mortalidade, não humana a que sou condenado pela fatalidade do mundo, mas sim do sentimento constante, cortante, consistente que me faz cada vez mais recluso em minha solidão.

Que minha solidão se torna sinônimo de amor por você, pois meu ausentar-se do mundo e da festa do mundo me faz apenas querer você, como solidão compartilhada na multidão multiforme de cores e aromas.

Que nenhuma delas me atraí, mas que seu perfume e seu espectro são os únicos que me chamam atenção no meio da grande multidão, do grande mercado de cores e aromas.

Que seu som é o único que me atraí, como uma sinfonia de pássaros cantando ao longe nas árvores de um descampado verde e brilhante como a lua durante o dia.

Que me diz você, deusa oculta? Rainha da noite e dos mistérios. Devolvo a ti teu enigma para que eu, mortal, não necessite responder e cair em tua artimanha, mas que sim, tu, tu mesma, enigmática e perfídia serpente não me tente, mas que pique a si mesma, como a serpente da eternidade cuja cauda lhe é reconduzida à boca.

Que me diz você, esfinge de meu desejo? Que és tu, senão a trapaça corporificada? Que és tu senão o pecado cuja essência foi formalizada?

Que afasta-te de mim ou me consuma por inteiro de uma vez, assim que nem deus ou diabo seja testemunha do instante paradoxal do desejo absurdo que se enverga sobre mim. De uma vez, por todas as vezes e para sempre.

Que seja minha, ou não seja nada! Que seja absoluto, ou seja vazio. Que seja o ápice completo, ou seja o abismo profundo... 

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