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Meu Enigma
Você...
Complexo edípico da minha existência.
Contradição fundamental do meu ser.
Negação da minha negação de vida.
Linha de fuga da minha dialética.
Amor platônico onde o platonismo não passa mais de sombra na
caverna.
Musa e ninfa dos sonhos perdidos do homem que almeja a terra firme, mas que tudo o que encontra é a sereia sedutora na obscuridade do mar.
Ajude-me a resolver um enigma insondável que se precipita em
minha mente turva de problemas mundanos, mas que, por um acesso de divindade,
sobrevém o problema fundamental da mortalidade:
Que és tu, esfinge, que se erige sobre mim com tuas questões
como se eu fosse um oráculo ou mesmo um sábio, sendo tão somente um homem?
Que és tu esfinge que joga sobre mim suas artimanhas como se
a mim fosse decidido pelo destino inescrutável de verdades, a verdade a ti
admitir sobre toda a eternidade?
Que és tu, esfinge do amor, que não me deixa e não me
abandona senão para me fazer desespero em meus momentos de solidão onde não a
encontro?
Que me faz refém de suas malícias e de suas carícias contínuas
as quais meu ser anseia constantemente o retorno e a réplica do dado, mas nunca
o desprendimento de ti.
Que me faz vítima da mortalidade, não humana a que sou
condenado pela fatalidade do mundo, mas sim do sentimento constante, cortante,
consistente que me faz cada vez mais recluso em minha solidão.
Que minha solidão se torna sinônimo de amor por você, pois
meu ausentar-se do mundo e da festa do mundo me faz apenas querer você, como
solidão compartilhada na multidão multiforme de cores e aromas.
Que nenhuma delas me atraí, mas que seu perfume e seu espectro
são os únicos que me chamam atenção no meio da grande multidão, do grande mercado
de cores e aromas.
Que seu som é o único que me atraí, como uma sinfonia de pássaros
cantando ao longe nas árvores de um descampado verde e brilhante como a lua
durante o dia.
Que me diz você, deusa oculta? Rainha da noite e dos
mistérios. Devolvo a ti teu enigma para que eu, mortal, não necessite responder
e cair em tua artimanha, mas que sim, tu, tu mesma, enigmática e perfídia
serpente não me tente, mas que pique a si mesma, como a serpente da eternidade
cuja cauda lhe é reconduzida à boca.
Que me diz você, esfinge de meu desejo? Que és tu, senão a
trapaça corporificada? Que és tu senão o pecado cuja essência foi formalizada?
Que afasta-te de mim ou me consuma por inteiro de uma
vez, assim que nem deus ou diabo seja testemunha do instante paradoxal do desejo
absurdo que se enverga sobre mim. De uma vez, por todas as vezes e para sempre.
Que seja minha, ou não seja nada! Que seja absoluto, ou seja
vazio. Que seja o ápice completo, ou seja o abismo profundo...
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