Pular para o conteúdo principal

Destaques

Lua

Hécate, deusa grega das encruzilhadas, por Stéphane Mallarmé, 1880. Ah, Hécate, no desvelar da lua A noite obscura encobre o sombrio segredo Do poder oculto e fugidio do aparecer  Na noite eterna que encobre em mistério Soturna e lúgubre a verdade esquecida Entre memórias há muito perdidas e apodrecidas Do que se tem como a luz que emana de ti  Vendo agora, no clarão sombrio  Da noite que engole o Ser e o Mundo  E seu Abismo de negrume e Nada Somos tragados adentro da magia da deusa Hécate, nos abençoe e fortaleça Seu glóbulo ocular entre-nuvens  Disperso porém presente, vívido porém evanescente Somos reféns de ti nas noites de glória Ao grande Sabá cósmico à Máquina Tanatoerótica  De Nosso Senhor Dioniso, expressão viva Da tripartite de seu do rito profano  Deus coroado das terras da Frígia  Gerado, destroçado e germinado  Para ascender do Abismo da destruição  Delirante de alegria orgástica em seu ato de Sacrifício   E pela máxima diabólica da transgressão Lhe solicitamos a benção, ó

O Jogo

 


O Jogo de Cartas de Francesco Bergamini (1815-1883).

Esses homens comedidos, simplórios e virtuosos nos acusam de sermos apostadores: pois bem! Apostadores o somos, assim como vocês também o são! O mundo é um jogo e a todo momento confrontamos nossas cartas com nosso adversário: a própria adversidade. Se um sujeito qualquer joga na loteria e, no ápice da ansiedade aguarda o resultado da vitória com a ânsia de uma reviravolta completa do destino de sua vida, mas que, por uma combinação completamente aleatória dos dados do desenlace fortuito que se dá, contradiz totalmente sua aposta - esta desmorona os castelos de areia de suas expectativas e sonhos de um novo amanhã e vida almejados com o prêmio tão desejado. O desespero se insere no homem como um parasita, sua vida atual, já acumulada de atribulações que se assentava totalmente na esperança vindoura de uma virada completa se desfaz como uma nuvem no céu.

Assim se dá com qualquer plano ou conjectura para o futuro, pois a cada ato que executamos fazemos nossa feição neutra de desejo íntimo cujo jogo escondemos. Somos supersticiosos, não revelamos nossas cartas, apenas aos mais confiáveis dos amigos, e levamos todas as fichas ao centro da mesa numa única jogada que vale tudo. O grande erro do jogador: sua seriedade e confiança no ganho. Não é questão de habilidade, quem joga contra você não é apenas o outro homem, mas o próprio mundo e sua insaciável necessidade de trapacear. A cada Ás na manga que você tenha, o mundo terá um Curinga. A cada jogada vencedora que você tenha nas mãos, o mundo lhe toma as cartas e as embaralhará novamente.

A vida é um jogo de 21 em que na maioria das vezes as cartas não são favoráveis e que se efetua em cada decisão que tomamos. Outrossim, ganhamos muitos lances, o segredo é a parte da expectativa: o jogador profissional possui uma ansiedade atiçada pelo resultado, tem a expectativa dos seus esforços serem atingidos pois dedica tudo de si na aposta, pois esse é seu modo de vida; o jogador amador não anseia nada, joga por prazer, o resultado que vier lhe será suficiente, na vitória ou na derrota, se satisfaz apenas com o ato de apostar presente e não com o resultado que se anuncia apenas no futuro. Sejamos amadores do jogo da vida, e não jogadores profissionais. Tenhamos prazer na aposta e que nos alegremos apenas da companhia dos outros apostadores que se reúnem conosco na mesa da vida. Não nos limitemos à esperança da jogada vencedora pois o próprio jogo, com suas peripécias e reviravoltas, já nos é suficiente sem a vitória e o ganho de todas as fichas da mesa.

Comentários

Postagens mais visitadas