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Problemas Familiares no Paraíso
Como
dito nos escritos sagrados, Deus fez algumas tentativas de aliança com o homem:
uma primeira dando a Adão o paraíso, uma segunda reconstruindo o mundo após o
dilúvio, uma terceira com as tábuas da lei e uma quarta enviando a si mesmo na
forma de “filho” para redimir o pecado do verdadeiro filho, o homem. O que tomo
para mim é tão somente o seguinte: a relação de Deus, ou melhor - que demos nomes
aos bois e nos tornemos mais próximos d’Ele, como bons conhecidos que somos –
Jeová, é a relação de um pai autoritário com um filho rebelde.
Mas
a família de Jeová é grande e tem vários dramas, e esse pai de coração duro sempre
tenta se conectar e amar seus filhos. Seu primogênito, orgulho de sua estirpe
forte e reflexo perfeito de quem era o pai ninguém mais foi do que um
sujeitinho chamado Lúcifer. Se Jeová tinha em sua personalidade tão excêntrica as
características de pai coruja, mas que, não obstante, queria tudo do jeito
dele, esse seu filho não aceitava as regras e queria ser o alfa da alcateia de
irmãos anjos que Jeová havia criado. Como bom pai autoritário que era, Jeová
não deixaria esse projeto de anarquismo se sustentar e pune, portanto, seu
filho Lúcifer da maneira mais severa possível, assim como todos os seus irmãos
rebeldes os enviando para a sarjeta de sua grande casa universal, deserdando-os
e cortando relações com estes.
Mas
Jeová é um pai amoroso e ainda assim sente pesar na consciência com isso e vê
que o erro foi seu em não criar corretamente seus filhos. Tenta, deste modo,
ser melhor como pai e projeta assim um filho que seria sua cria bem-educada.
Adão – o homem – feito perfeitamente à sua imagem não teria nada do que
reclamar se ele, ao contrário de Lúcifer, vivesse na ignorância de uma vida
perfeita criada por um pai amoroso e protetor. Deu certo por um tempo, até que
Adão pediu para Jeová alguém com quem ele pudesse compartilhar sua solidão que
não fosse tão somente a visão fraterna e calorosa do pai. Uma primeira moça foi
criada, com aquela mesma atitude tão inconformista que o primogênito Lúcifer –
Lilith – a qual desagradou tanto a Adão quanto o papai Jeová. Foi um problema
quando Adão queria trepar e ela não queria ficar por baixo: que absurdo uma
mulher recém-chegada na família não se submeter ao filho favorito de Jeová!
Pois então, Lilith foi mandada para o mesmo buraco que Lúcifer. Deserdada, sem
direito à herança do céu eterno ou da salvação divina.
No
abismo, essa perniciosa moça se encontra com o primeiro filho do pai
autoritário e eles se acertam nos desacertos de sua revolta contra papai. Na
casa de Jeová, o Éden perfeito, este então resolve criar uma segunda moça para
seu filho favorito a qual, desta vez, sendo educada e comportada, não uma puta
promiscua como a primeira filha rejeitada. Mas não imaginavam Jeová, Adão e
agora a nova filha – Eva – que no abismo, os filhos rejeitados planejavam uma
vingança contra a injustiça que a eles lhes fora feita. Daí que Lúcifer e
Lilith arquitetam o plano universal para pôr um fim ao favoritismo do filho
pródigo: o conhecimento que Jeová tanto escondia de seus filhos queridos como
forma de protegê-los seria a forma de imiscuir ali uma dose de pecado.
Lilith
ou mesmo Lúcifer aparecem para a comportada Eva na forma de uma sedutora
serpente e lhe convence de que há algo muito interessante nesse fruto que papai
disse para não comer, um mundo de prazeres ocultos e saberes infinitos. Eva,
por sua vez, se vê maravilhada com tal insinuação de possibilidades e resolve
provar esse caminho: “ora bolas, se papai nos ama tanto, ele perdoaria um pequeno
deslize, não?” Ela convence seu irmão e amante querido, Adão, a fazer o mesmo e
no exato mesmo momento Jeová, com sua onisciência - que, por um certo descuido,
deixou escapar o plano da serpente astuta - fica extremamente furioso com seus
filhos tão bem cuidados. Em um momento de ira descomunal, Jeová expulsa Adão e
Eva do mundinho perfeito que havia criado para estes e os coloca no pleno campo
da mortalidade da Terra movente.
Não
tão severo como foi com Lúcifer e Lílith, pois o coração duro de um pai com o
tempo amolece, ele resolve testar seus novos filhos – e os descendentes desses filhos
– de outro modo. Jeová pensa: “farei uma prova de força da virtude do homem fora
da eternidade perfeita a fim de ver se, com todos os martírios que eu jogar sobre
eles, serão capazes de retornar para casa como filhos bons e arrependidos” Ao
longo de eras, Jeová envia sobre o homem as mais terríveis atrocidades possíveis
sempre testando o vigor de sua devoção, algumas vezes se arrependendo de sua
criação e desejando profundamente pôr um fim e punir de vez esses filhos por se
desviarem demais de seus princípios. Chega até um momento que tenta fazer um
pacto com esses filhos lhes enviando algumas regrinhas básicas para que seja
possível uma convivência mais saudável, mas no fim das contas nada dá certo.
Desacreditado,
desiludido com esse filho que por tanto tempo amou um amor estranho de um pai
que quer bem seu filho apesar de lhe bater constantemente, mas tão somente com
o intuito de lhe formar o caráter, Jeová decide aparecer para seus filhos ele
mesmo como um novo filho, vestindo uma fantasia de filho para ver como irão se
comportar. O novo filho, Jesus, por determinação de si mesmo como Jeová, não
sabe que é o próprio pai, mas pensa que é filho, e sabe que tem a missão de
salvar o outro filho. Caçula de bom coração, deve ajudar seu irmão mais velho a
retomar o caminho correto, contudo sabe que esse irmão é bem temperamental e
agressivo por conta da influência do primeiro filho. Jesus tenta de tudo, atraí
alguns de seus irmãos para si mas muitos deles ainda o odeiam por ser demasiado
humilde.
Lucífer
volta de seu retiro de férias imposto e decide tentar o novo filho como fez com
o segundo, mas não dá certo. Esse é demasiado convicto nas ordens do papai. Mas
não por isso, Lúcifer então resolve atiçar seu segundo irmão de modo que uma
algazarra seja feita: “um eu consegui trazer pro meu lado, se o outro não consigo,
que eu o expulse daqui!” De tal modo Jesus é - apesar de um pingado de
seguidores - perseguido e morto pelo restante de seus irmãos homens. O sacrifício
já era previsto por Jeová, seu plano era sacrificar seu filho mais novo para
salvar o seu filho favorito. Durante todo o tempo, Jesus foi usado como um bode
expiatório para que Jeová conseguisse se reconciliar com seu filho querido cuja
relação foi quebrada pela intervenção do filho rebelde.
Jeová
nunca aceitou a natureza orgulhosa e imperfeita de Lúcifer e desejou
ardentemente que o homem fosse sempre uma réplica sua segundo seus próprios
olhos. Mas não via Jeová que quanto mais ele buscava tornar o homem sua imagem
e semelhança, ele se tornava a imagem e semelhança do filho mais velho:
orgulhoso, arrogante, mau, cruel. A ponto de sacrificar seu filho caçula pelo
amor rejeitado de seu filho favorito. O homem herdou igualmente de Jeová seu
orgulho, não foi Lúcifer que lhe passou isso – assim como todas as outras
características destrutivas. Jesus, talvez por uma certa ironia em ser o
próprio Jeová e seu filho concebido tão somente como cordeiro de sacrifício,
foi o que mais se distanciou de Jeová na personalidade – mas ainda assim, foi o
mais obediente, o mais estreito nas regras impostas pelo pai.
Seu sacrifício não deu certo por muito tempo, pois a natureza de seu filho favorito permaneceu a mesma, talvez tenha se tornado ainda pior. Enfim, o problema dessa família sempre esteve centrado em um pecado muito específico: o orgulho – e é este o pecado original do homem assim como de Deus. Mas quem haveria de poder mudar a natureza desejante de sempre almejar algo como a si mesmo no universo inteiro?
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