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Destaques

Lua

Hécate, deusa grega das encruzilhadas, por Stéphane Mallarmé, 1880. Ah, Hécate, no desvelar da lua A noite obscura encobre o sombrio segredo Do poder oculto e fugidio do aparecer  Na noite eterna que encobre em mistério Soturna e lúgubre a verdade esquecida Entre memórias há muito perdidas e apodrecidas Do que se tem como a luz que emana de ti  Vendo agora, no clarão sombrio  Da noite que engole o Ser e o Mundo  E seu Abismo de negrume e Nada Somos tragados adentro da magia da deusa Hécate, nos abençoe e fortaleça Seu glóbulo ocular entre-nuvens  Disperso porém presente, vívido porém evanescente Somos reféns de ti nas noites de glória Ao grande Sabá cósmico à Máquina Tanatoerótica  De Nosso Senhor Dioniso, expressão viva Da tripartite de seu do rito profano  Deus coroado das terras da Frígia  Gerado, destroçado e germinado  Para ascender do Abismo da destruição  Delirante de alegria orgástica em seu ato de Sacrifício   E pela máxima diabólica da transgressão Lhe solicitamos a benção, ó

Nuit


Noite da Lua de Ivan Konstantinovich Aivazovsky, 1885


Olho para as estrelas

Completamente irresoluto

Inquieto em minha angústia humana

Preso em meu castelo recluso

De solidão mundana

Ao contrário do que se pensa comumente

O abismo não está abaixo

Mas acima e no céu infinito

Longe de toda essa gente

Em que se distingue tudo por um fino estrato 

De aberto espaço

Deixando restar de mim como ser sociável 

Somente um resquício 

E ao fitá-lo entrego todo meu espírito

À liberdade fosca e obscura

Do vazio aberto ao qual me entrego

Fazendo-me vazar pela fresta aberta

De tal grande noite escura

Sendo pressionado como o prego pelo martelo

Gerado por um sem-sentido absurdo

Que não fala comigo como se me faltasse

Coisa alguma em meu canto recluso

Mas como uma lua cheia que ilumina

O tecido celeste de negrume

Pontilhado por pequenos astros longínquos

Vislumbro, como uma luz ao fim do túnel

Como o mais intenso lume 

Ao qual minha ínfima vida se destina

Objetivos e planos que se veem contíguos

E que somente aguardam que desponte ao longe

A aurora de um novo dia brilhante

E bote fim à noite lúgubre

Mas que à qual tanto me afeiçoei com seu brilho de bronze


Sinceramente confesso, que da noite não desejo, em suma

Aquele triste “Adeus! De ti me despeço”

Mas sim, como numa história infantil se conte 

Se retorne sempre quando possível

Quando me apraz na minha tenra melancolia

De modo que me refaço ao seu sodalício 

Esta bela lua com seus astros circundantes

Sempre na clareira tardia 

Com sua amizade reconfortante

Que o Sol, com todo seu resplendor visível

Nunca foi capaz de meu profundo interior compor

Portanto é a dama da noite que busco

E a lua, com sua com sua emanação, é a única que minha energia 

É capaz de repor 

Quando um conselho anseio

Quando perdido me encontro

E de mim mesmo me vejo alheio

E que nunca vi tamanha beleza na aurora do despertar do dia 


É à noite, das bruxas e do diabo

Que estou sempre inclinado

Pela profanação do sagrado

E pela entrega ao pecado

Pela criação da eterna fantasia

Na grande arte milenar da proibida magia

Que eu seja queimado em alguma fogueira

Como um herege pela moralidade cristã

De uma iconoclastia de sacros ídolos 

Ou perversão pagã

A mim não importa

Somente que se abra a porta

Do eterno fluxo de vida

Pulsante, movente

De um prazer infinitamente constante

Em me deleitar por todos os gozos que esta Terra finita

Tem a me proporcionar


Pagão que sou, me nego ao Deus do exclusivo

Uma birra de criança mimada

Eu que considero Deus uma criança educada

Deus cuja moral se assenta no que lhe é divertido

Que sabe brincar e dividir os brinquedos

Com seus irmãos outros deuses

Brincalhão

Trapalhão

Mas que estes estejam completamente cientes

De sua finitude como divindades

Pois a eles tão somente depende a nós

Assim como tudo o que lhes dados, como nosso último tostão

Todo o cambão de seu estatuto de potestade 

Resta a nós, humanos, a responsabilidade

Que se encontrem inteirados 

Que caso não queiramos mais

Seu reinado há de findar

Mas quão bom é para o homem idolatrar

Um 'quê' de idealidade

Como é bom para o homem ter algo pelo que orar 

Ter um 'por que?' na divindade

Somente quando não mais outra alternativa nos restar

De todos os deuses iremos podar

Mas ainda não é tempo

Para isso o homem maduro deve estar

Contudo para tanto não deve tardar

Mas enquanto a hora não chegar 

Desejo eu, como humano que sou

À glória do infinito noturno homenagem prestar 

Como até agora tenho feito

Que seu poder seja o que eleva meu ensejo

Que sua glória seja minha oportunidade

Que seja eu seu grande eleito

Que me seja dada toda grandiosidade

Pois este é meu desejo

Pois esta é minha vontade

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