Destaques
- Gerar link
- X
- Outros aplicativos
Acéfalo
Rastejando no meu cérebro
Como vermes
Queria não ter cabeça
O deus acéfalo
De uma mente lisa
Lisa como navalha
Que corta todo pensamento
Como o véu que encobre
Minha mente
Afogar o desejo
De excesso sucumbente
Morrendo para nascer
Perecimento do querer
Em sua própria abundância
Como uma taça que transborda
De infinito vazio
Repleto de tudo o que pode
E o que não pode
Ver a luz do dia
Neutralidade etérea
Como vapor no ar
Zero composto
Nulo
Só
Ao mesmo tempo
Cheio de vida
Escorregadio
Escapando como sabão entre os dedos
Rompendo as raízes
Os tentáculos
Dessas ideias
Que fincam
Seus alicerces em mim
Esperando construir
Um edifício da razão
Em minha mente
Quero me decapitar
Retornar ao útero
Cortar minha língua fora
Abolir a palavra
Crucificar todo conceito
Até só sobrar o sangue da linguagem
Letras dispersas
Amontoados de sons
Sem sentido ou objetivo
Sem razão
Só a pura sensibilidade
Do som
Que não cansa mais
Com o falatório das pessoas
Que buscam respostas para todas as coisas
Chega de perguntas
Sem mais detetives do Ser
Só o mistério
Envolto em densa névoa
O grande ponto de interrogação
Chega de exclamações
Chega de "eu sei!"
O Santo Graal da dúvida
Da suspeita
Sem adornos
Por pequenos cristais de certeza
Badulaques brilhantes
Desses auspiciosos filósofos
E todo o seu método
Todo seu certo, errado
Cordial ou indecoroso
Seus modos demasiado modestos
Cavalheirescos
De se portar frente o medo
E o receio
De se atreverem a negar
Saber
Rachar o crânio
Com um machado
Fazer escorrer
Todo o viscoso suco
De absurdo
Que não encontra sentido
Em nada dito
Só satisfaz
Não sendo
Aquilo que se pretende
Fazer sentido
Moedas jogadas
Em um poço de esquecimento
Desgastadas pelo tempo
Enferrujadas
Sem valor
Valendo
Só como relíquias
Perdidas
Nas desérticas areias
Da ampulheta
Que escorre
A eternidade inteira
O sonho esquecido
Logo ao se acordar
Pensamento amnésico
Comunicação afásica
Lenta morte da razão
Definhamento de toda
Logicidade
Restando tão somente
Um cérebro sem estrias
Prado selvagem
Onde posso cavalgar
Livremente
Sem recuar
Ou tropeçar
Em pequenos juncos
Nem me assentar
Em qualquer vala
Liberdade errante
Do pensamento sem ideias
Desfixada de qualquer estrela
Ou horizonte
Somente o intempestivo futuro
Aberto
Desvencilhado
Desatrelado
Indeterminado
Incompreensível
Danação de todos os videntes e adivinhos
Tudo o que sobra é o vazio
E a restituição
A mim concebida
De semear e colher
Nas estepes
Da tempestade
Do longínquo
Desconhecido
- Gerar link
- X
- Outros aplicativos
Comentários
Postar um comentário