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Destaques

Lua

Hécate, deusa grega das encruzilhadas, por Stéphane Mallarmé, 1880. Ah, Hécate, no desvelar da lua A noite obscura encobre o sombrio segredo Do poder oculto e fugidio do aparecer  Na noite eterna que encobre em mistério Soturna e lúgubre a verdade esquecida Entre memórias há muito perdidas e apodrecidas Do que se tem como a luz que emana de ti  Vendo agora, no clarão sombrio  Da noite que engole o Ser e o Mundo  E seu Abismo de negrume e Nada Somos tragados adentro da magia da deusa Hécate, nos abençoe e fortaleça Seu glóbulo ocular entre-nuvens  Disperso porém presente, vívido porém evanescente Somos reféns de ti nas noites de glória Ao grande Sabá cósmico à Máquina Tanatoerótica  De Nosso Senhor Dioniso, expressão viva Da tripartite de seu do rito profano  Deus coroado das terras da Frígia  Gerado, destroçado e germinado  Para ascender do Abismo da destruição  Delirante de alegria orgástica em seu ato de Sacrifício   E pela máxima diabólica da transgressão Lhe solicitamos a benção, ó

Acéfalo


Akephalos, O Deus Sem Cabeça de Jose Gabriel Alegría Sabogal


Todas essas ideias

Rastejando no meu cérebro

Como vermes

Queria não ter cabeça

O deus acéfalo

De uma mente lisa

Lisa como navalha

Que corta todo pensamento

Como o véu que encobre

Minha mente

 

Afogar o desejo

De excesso sucumbente

Morrendo para nascer

Perecimento do querer

Em sua própria abundância

Como uma taça que transborda

De infinito vazio

Repleto de tudo o que pode

E o que não pode

Ver a luz do dia

Neutralidade etérea

Como vapor no ar

Zero composto

Nulo

 

Ao mesmo tempo

Cheio de vida

Escorregadio

Escapando como sabão entre os dedos

Rompendo as raízes

Os tentáculos

Dessas ideias

Que fincam

Seus alicerces em mim

Esperando construir

Um edifício da razão

Em minha mente

 

Quero me decapitar

Retornar ao útero

Cortar minha língua fora

Abolir a palavra

Crucificar todo conceito

Até só sobrar o sangue da linguagem

Letras dispersas

Amontoados de sons

Sem sentido ou objetivo

Sem razão

Só a pura sensibilidade

Do som

Que não cansa mais

Com o falatório das pessoas

Que buscam respostas para todas as coisas

 

Chega de perguntas

Sem mais detetives do Ser

Só o mistério

Envolto em densa névoa

O grande ponto de interrogação

Chega de exclamações

Chega de "eu sei!"

O Santo Graal da dúvida

Da suspeita

Sem adornos

Por pequenos cristais de certeza

Badulaques brilhantes

Desses auspiciosos filósofos

E todo o seu método

Todo seu certo, errado

Cordial ou indecoroso

Seus modos demasiado modestos

Cavalheirescos

De se portar frente o medo

E o receio

De se atreverem a negar

Saber

 

Rachar o crânio

Com um machado

Fazer escorrer

Todo o viscoso suco

De absurdo

Que não encontra sentido

Em nada dito

Só satisfaz

Não sendo

Aquilo que se pretende

Fazer sentido

 

Moedas jogadas

Em um poço de esquecimento

Desgastadas pelo tempo

Enferrujadas

Sem valor

Valendo

Só como relíquias

Perdidas

Nas desérticas areias

Da ampulheta

Que escorre

A eternidade inteira

 

O sonho esquecido

Logo ao se acordar

Pensamento amnésico

Comunicação afásica

Lenta morte da razão

Definhamento de toda

Logicidade

Restando tão somente

Um cérebro sem estrias

Prado selvagem

Onde posso cavalgar

Livremente

Sem recuar

Ou tropeçar

Em pequenos juncos

Nem me assentar

Em qualquer vala

 

Liberdade errante

Do pensamento sem ideias

Desfixada de qualquer estrela

Ou horizonte

Somente o intempestivo futuro

Aberto

Desvencilhado

Desatrelado

Indeterminado

Incompreensível

Danação de todos os videntes e adivinhos

Tudo o que sobra é o vazio

E a restituição

A mim concebida

De semear e colher

Nas estepes

Da tempestade

Do longínquo

Desconhecido

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