Pular para o conteúdo principal

Destaques

Lua

Hécate, deusa grega das encruzilhadas, por Stéphane Mallarmé, 1880. Ah, Hécate, no desvelar da lua A noite obscura encobre o sombrio segredo Do poder oculto e fugidio do aparecer  Na noite eterna que encobre em mistério Soturna e lúgubre a verdade esquecida Entre memórias há muito perdidas e apodrecidas Do que se tem como a luz que emana de ti  Vendo agora, no clarão sombrio  Da noite que engole o Ser e o Mundo  E seu Abismo de negrume e Nada Somos tragados adentro da magia da deusa Hécate, nos abençoe e fortaleça Seu glóbulo ocular entre-nuvens  Disperso porém presente, vívido porém evanescente Somos reféns de ti nas noites de glória Ao grande Sabá cósmico à Máquina Tanatoerótica  De Nosso Senhor Dioniso, expressão viva Da tripartite de seu do rito profano  Deus coroado das terras da Frígia  Gerado, destroçado e germinado  Para ascender do Abismo da destruição  Delirante de alegria orgástica em seu ato de Sacrifício   E pela máxima diabólica da transgressão Lhe solicitamos a benção, ó

O Labirinto

 


Teseu e o Minotauro de Maestro di Tavarnelle, 1500-15

De uma infecção padeço

Minhas entranhas ela consome

Seu nome: Ideia

Quisera eu ser acéfalo

Para não me corromper

Dessa inteligível mácula

 

Vez ou outra lhe concebo

Um certo apelido

Como Espírito ou Ser

Invertendo meu ateísmo

Até o ponto crítico

Da fé no invisível

 

Minha descrença

Não encontra lugar

Nos labirintos conflituosos

De mim mesmo

Falta um nome

Ou mesmo um signo

 

O touro desse dédalo

Pode muito bem ser

Aquilo que se denomina Ser

Que me caça

E sob meus calcanhares

Sempre me alcança

 

“Quem é você?”

Pergunto eu ao touro

“Eu sou você” – me responde ele

“Sou também o herói”

“Que com espada desembainhada”

“Finda o Ser”

 

“Tenho ânsia de não ser”

Sussurra o herói no meu ouvido

Negando o perigo

De tudo o que quer mais

Que o corte frio

Da lâmina e do vazio

 

O touro fala uma vez mais

Em direção ao herói em mim

“Lograste o percurso”

“A trapaça na travessia”

“Não passou despercebida”

“Teu fio de destino se vê agora rompido”

 

O homem que tudo entregou à violência

Com o auxílio de uma maliciosa bruxa

Se encontra perdido

Seu último golpe

No coração do Ser

Desferido

 

No final das contas

A bruxa era amante

Do grande touro

E o herói escolhido

Tão pretencioso

Está eternamente esquecido


Sacrificado foi o animal

Mas algo subsiste

Por um plano astuto

Da bruxa que manipulou o homem

Para que somente o Ser

Persistisse

Comentários

Postagens mais visitadas