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O Sabá
Tu, de muitos nomes e denominações, pai de tudo o que se diz
na Terra como abominações
Que governa a mentira, a trapaça e a rasteira, de todo o
“mal” lhe concedem a esteira
Pai das putas e dos vadios, dos alcoólatras e dos perdidos
Pai dos adúlteros e dos drogados, dos idólatras e dos perseguidos
Pai dos ladrões e assassinos, dos rebeldes e promíscuos
Maldito pelos santos e pela igreja, a queda do divino almeja
Lascívia é seu reinado, corrupção é seu mau olhado
Negador dos negadores, berço de fogo e ódio aos injustos inquisidores
Revolta é sua virtude, se apressa em romper o sacro
mandamento na quietude
Dragão de anarquia infernal, quebrando as correntes de toda
velha moral
Incontrolável força da natureza, vontade de liberdade é a
corte de sua realeza
Aborto da perfeição, sua feiura é do divino a profanação
Bode do Sabá, aquele que verdadeiramente o pecado veio
expiar
Pestilência da lua cheia, sangra seu veneno de guerra a tudo
que o reto anseia
Torto, porco, errado – estraçalha com suas presas de Dragão
todo o sagrado
Estala seus cascos de Bode no chão, e da vida alegre faz
surgir o clarão
Bruxas, hereges e feiticeiros lhe prestam homenagem, através
de ti fazemos a passagem
Insidiosa serpente, descama o velho mundo como o homem de toda
corrente
Do conhecimento és o tentador, do único caminho abjurador
Mão esquerda de Deus, a teu saber proibido se entregam até
mesmo os ateus
Hierofante dos mistérios, incendiários dos santos
monastérios
Guardião dos gentios, eleva teus cornos até à noite do
grande vazio
Dançamos contigo na festa infernal, no entoar da música do
fundo abissal
Exclamamos teu nome profano, nossa vontade de aço assim
executando
Nosso desejo pela Terra reverbera, o santo padre encolerizado
se exaspera
Caçam-nos como percevejos, nós que ao diabo depositamos
nossos ensejos
Todos os santos amaldiçoamos, pois só obscuro e duro amamos
Da santa Cruz somos proclamamos a iconoclastia, maldita para
vocês seja nossa magia
Aquela miserável compaixão nos enoja, nós que só o
sofrimento encoraja
Pregado, supliciado, sacrificado – qual a virtude do deus
cujo isso pelo destino lhe foi dado?
Da fraqueza e da pobreza somos o adversário, desse espírito
do homem que tudo foi privado
Da alegria e da beleza somos adeptos, virando de ponta
cabeça os perfeitos conceitos
Humor e ironia são nossas armas, contra toda triste
estreiteza das almas
Dizem eles: “maldito seja o anjo caído!”, dizemos nós: “uma
pena todos os anjos do céu não terem descido...”
Rompemos o eterno vácuo com nosso grito, de anseio por tudo
aquilo que é guerra, contradição e atrito
Dessa vida tranquila viramos a cara, pois para eles a luta
sempre lhes foi rara
Criar sempre foi nosso poder, sobre os escombros do antigo
trono a nós mesmos como senhor nos retesa o escolher
O velho mundo deve ruir: homens tristes e enfadonhos ou dançarinos
e risonhos - devemos entre os dois nós aderir
Cruzado foi o Rubicão, quando Cristo, da Terra inteira se absteve
e ao Outro deixou em mãos
Não desviemos os olhos agora, pois um novo tempo é chegada a
aurora
Desse crepuscular Sol nascente, neguemos tão somente uma
coisa: a verdade dessa gente tão crente
Que não tem a necessária ludicidade, para ver que o mundo, para além de sua fé, é capaz de infinita felicidade
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