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Destaques

Lua

Hécate, deusa grega das encruzilhadas, por Stéphane Mallarmé, 1880. Ah, Hécate, no desvelar da lua A noite obscura encobre o sombrio segredo Do poder oculto e fugidio do aparecer  Na noite eterna que encobre em mistério Soturna e lúgubre a verdade esquecida Entre memórias há muito perdidas e apodrecidas Do que se tem como a luz que emana de ti  Vendo agora, no clarão sombrio  Da noite que engole o Ser e o Mundo  E seu Abismo de negrume e Nada Somos tragados adentro da magia da deusa Hécate, nos abençoe e fortaleça Seu glóbulo ocular entre-nuvens  Disperso porém presente, vívido porém evanescente Somos reféns de ti nas noites de glória Ao grande Sabá cósmico à Máquina Tanatoerótica  De Nosso Senhor Dioniso, expressão viva Da tripartite de seu do rito profano  Deus coroado das terras da Frígia  Gerado, destroçado e germinado  Para ascender do Abismo da destruição  Delirante de alegria orgástica em seu ato de Sacrifício   E pela m...

Breve Introdução


Andarilho Acima do Mar de Neblina de Caspar David Friedrich, 1817.

O principal problema que um escritor se depara é em como começar a escrever sua obra e, de forma paradoxal, eu decidi por começar a minha exatamente falando sobre este problema. O decorrer de um texto flui muitas vezes organicamente através de sua criação e escrita, mas iniciar o texto é uma tarefa complexa pois na maioria das vezes a imaginação somente projeta o desenvolvimento da ideia e do argumento, não sua implantação, assim como também não sua conclusão. Início e fim são dolorosos em todos os sentidos, em sentidos que podemos desenvolver mais profundamente no decorrer desta nossa jornada. Quanto ao que se trata essa jornada, é bom elucidar seu objetivo, se é que ele existe. Este escrito é algo pessoal, feito única e exclusivamente para mim mesmo. Se acaso algum dia outra pessoa ler isto, porventura do destino, é bom esclarecer sobre o que se trata este escrito. É puramente um exercício. De autoexpressão, autoconhecimento e de descoberta de estilo. 

Não tenho como intuito que isso seja qualquer tipo de autobiografia, mas mais como uma espécie de diário. Como por boa parte de minha vida existiu em mim o desejo de escrever, de criar através da palavra e por muitas tentativas frustradas eu abandonei o ofício em que me encontrava, decidi-me portanto treinar na escrita por meio destes textos como também expressar meus pensamentos aqui que muitas vezes transbordam os limites de minha mente e pedem por uma forma de compartilhá-los com o artificio linguístico. Escrito apenas para mim, pois todo escrito, qualquer que seja, que seja publicado, compartilhado com outras pessoas ou divulgado no exterior da solidão é um ato de vaidade. O homem tem, entre suas múltiplas características o sentimento de desejar ser reconhecido pelos outros e dessa maneira se tornar socialmente relevante, não por uma imposição obrigatória do sistema, mas sim por um desejo natural do homem em si de querer ter sua obra vista e reconhecida. 

Que nos debrucemos sobre temas que no social não possamos tratar, pois somente o homem a sós consigo mesmo pode de fato ser totalmente honesto, entretanto existem momentos em que nem mesmo consigo mesmo o homem deseja ser honesto e verdadeiro. Afinal de contas não há em cada um apenas um, mas sim vários, uma infinitude de versões de si mesmo que surgem e desaparecem e ressurgem de acordo com cada momento e cada influência. O homem é não um ser único e imutável, mas sim um agregado de si mesmo, de sua personalidade, memórias, sentimentos que se confluem e criam estados de espírito e de atividade diferentes dependendo de cada combinação. Se nem consigo mesmo o homem pode ser absolutamente verdadeiro pois a verdade é uma experiência subjetiva, ainda mais com os outros onde somente mostramos uma faceta de nós. Pois então, um trabalho escrito, um livro ou texto, um poema, não apenas obras escritas, mas qualquer forma de arte de expressão revela facetas de nós mesmos em meio à diversidade delas. 

A busca por autoconhecimento é a mais laboriosa de todas as jornadas humanas onde partimos em busca de uma personalidade de destaque do restante do agregado humano. Buscamos ser diferentes em tudo, sendo que através de nossas vivências e gostos, experiências e afecções já somos em si únicos e inigualáveis como todos assim também o são. O que é o eu senão algo formado intersecsionalmente pela multiplicidade do mundo, de relações humanas e com a natureza, de sentimentos e desejos. Acreditar que existe uma essência intrínseca no ser humano é extremamente ingênuo levando-se em conta tamanha diferença e variedade presente no mundo e na história. 

Estes ensaios, quiçá um estudo de minha própria identidade, é como um passeio de montanha russa. Eles passam por altos e baixos, por profundezas melancólicas de uma depressão profunda e por claridades solares que ofuscam tais escuridões numa autoafirmação sobrepujante de todo negativo. É uma experiência de terror, pois se revelam aspectos sinistros de corredores da consciência onde sempre espreitam monstros; mas também de romance, dado em conta as declarações a amores perdidos e nunca mais alcançáveis. Não diremos que há uma identidade fixa para o narrador, pois o narrador é o próprio autor, e este se transmuta a cada instante e a cada texto, senão a cada linha e palavra que escreve, transbordando sentimentos e afecções. Este é muito mais um tipo de experiência de escrita que intui transmitir afetos, dos mais variados tipos, do que qualquer tipo de lógica estrutural.

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